Ninguém gosta de descobrir que aquele cheirinho do "café" matinal, na verdade, vem de um pó cheio de truques. Pois foi exatamente isso que motivou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a agir de forma dura em junho de 2025. A agência ordenou um recall urgente de três marcas que vendiam bebida em pó sabor café, mas que, segundo as normas, sequer poderiam ser chamadas de café. Os produtos, que ganharam espaço prometendo sabor e economia, traziam uma mistura de resíduos, polpa vegetal e muitos aditivos sintéticos no lugar do grão legítimo.
Você sabia que o Brasil exige, por lei, que uma bebida chamada café precisa vir 100% do fruto do cafeeiro? Até pequenas impurezas naturais, de no máximo 1%, são toleradas, mas o que passou disso, vira fraude. Alguns fabricantes, no entanto, começaram a usar restos da produção — como cascas do café e até resíduos de outras plantas — para baratear o custo. Fora isso, caprichavam nos aromas artificiais para tentar enganar o paladar, e ainda estampavam nos rótulos uma promessa que não poderiam cumprir. Isso bate de frente com o Código de Defesa do Consumidor, que proíbe práticas enganosas e exige transparência total nos rótulos.
Essas bebidas alternativas viraram alvo principal da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), que já vinha pressionando por um controle mais firme sobre esse mercado cinzento. Eles alertam: quando uma marca lança um "café" assim, o consumidor é o maior prejudicado e toda a confiança no setor vai para o ralo. A ABIC cobra fiscalização pesada, principalmente agora, com o preço internacional do café às alturas. Não é mera coincidência o aumento desses "cafés falsos": com a alta dos grãos, é ainda mais tentador apostar em misturas que permitam preços baixos nas gôndolas, mesmo que à custa da honestidade.
Entre os nomes citados está a marca 'Oficial do Brasil', ligada à empresa Master Blends. Questionada, a empresa tentou contornar: diz que seus produtos são direcionados a quem busca opções mais acessíveis. Mas o problema não é preço — é o engano. O consumidor chega no supermercado, leva para casa acreditando estar comprando café de verdade, e acaba ingerindo algo bem diferente.
Esse recall de três marcas é, segundo especialistas do setor, apenas a ponta do iceberg. Tem produto imitando café falso espalhado por todo o país, muitas vezes até em mercados regionais e no comércio online. O desafio agora para a Anvisa e outros órgãos é garantir que a promessa de qualidade respeite o que está dentro da embalagem. Para quem não abre mão do café de cada dia, fica a dica: olho vivo no rótulo e desconfie do que parece barato demais para ser verdade.