Quando o assunto é trauma na bola, o ouro olímpico de 2016 acaba sendo quase uma resposta automática ao vexame do 7 a 1 sofrido diante da Alemanha na Copa de 2014. Rodrigo Caio, peça chave na defesa naquele torneio no Rio, não cansa de repetir: aquela medalha foi conforto real para um país inteiro apaixonado por futebol, e deu fôlego novo para uma geração que parecia sem rumo.
Lá no Maracanã, pouco mais de dois anos depois do desastre em Belo Horizonte, o roteiro parecia até piada: Brasil x Alemanha de novo, agora pelo inédito ouro nas Olimpíadas. Rodrigo Caio, que jogou todos os jogos ao lado de Marquinhos, lembra de cada detalhe da final. "A gente sentia nos olhos da torcida e dos jogadores o peso daquele jogo, como se fosse um ajuste de contas com a história", conta o zagueiro.
O jogo foi tenso até o último minuto. Empate em 1 a 1, prorrogação sem gols e drama nos pênaltis. Coube a Neymar bater o último e garantir a festa. Mas antes disso, foi a defesa que segurou as pontas. Rodrigo, líder do setor, lembra dos números: não perdeu nenhum jogo até a semifinal, venceu 70% dos duelos contra atacantes e liderou o time com 85% de aproveitamento em bolas aéreas. "A gente precisava mostrar que o Brasil não era só ataque. Depois do 7 a 1, o mundo duvidava da nossa defesa. Fechamos a casa e mostramos força. Ali a chave virou", ressalta.
Por trás das comemorações no gramado, Rodrigo Caio carrega uma história de tropeços e superação digna de roteiro de cinema. Em 2014, pouco antes das Olimpíadas, sofreu uma grave lesão no ligamento do joelho e por pouco não ficou fora do futebol. "Achei que ia parar, ver todos os sonhos irem embora. Mas lutei cada dia na recuperação pensando em jogar de novo pelo Brasil", conta ele.
E ainda teve outra pedra no caminho: depois de se destacar pelo São Paulo, quase assinou com o Valencia, da Espanha, mas o negócio travou de última hora. A frustração foi dura, mas acabou servindo de combustível: “Eu pensei em desistir, mas usei tudo isso para crescer. O ouro nas Olimpíadas me mostrou que tudo faz sentido no tempo certo”.
Para Rodrigo, aquela conquista não apagou o 7 a 1, mas abriu espaço para novas emoções. Virou símbolo de resiliência, referência para quem chegou depois. Não por acaso, o grupo do Rio 2016 inspirou gente que hoje defende a Seleção principal. “O futebol brasileiro mudou desde aquela medalha, e o torcedor voltou a sorrir. O ouro não foi só meu, mas do país inteiro, que precisava voltar a acreditar”.
O que nem todo mundo percebe é que aquele time olímpico representou um ponto de virada que foi muito além do esporte. A defesa sólida virou marca registrada, a geração ganhou confiança e o fantasma do 7 a 1 perdeu força na memória coletiva. Para Rodrigo Caio, está provado: nenhum trauma é maior que o orgulho de vestir a camisa amarela.