O Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil retomou mais uma vez o julgamento histórico sobre a descriminalização da posse de maconha para uso pessoal. Este julgamento teve início em 2015 e passou por diversas interrupções ao longo dos anos. Até agora, o placar está equilibrado, com cinco votos favoráveis à descriminalização e três contrários. Os oito ministros que já votaram concordam que é necessário definir uma quantidade específica da droga para distinguir os usuários dos traficantes, mas os detalhes sobre a quantidade e quem deve definir isso ainda são pontos de divergência.
Os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Rosa Weber votaram a favor da descriminalização, enquanto Cristiano Zanin, André Mendonça e Nunes Marques se manifestaram contra. Aqueles favoráveis à descriminalização argumentam que a penalização de indivíduos por posse de pequenas quantidades de maconha é uma postura ineficaz e sobrecarrega o sistema penitenciário com infratores de baixo risco. Além disso, destacam o impacto social negativo, especialmente para comunidades marginalizadas.
Barroso, que também é o presidente do STF, esclareceu que a corte não está legalizando a maconha, mas considerando se a punição para sua posse deve ser criminal ou administrativa. De acordo com Barroso, a droga continua sendo uma prática ilícita, mas isso não necessariamente deve acarretar pena criminal. Argumentos nesse sentido visam alinhar-se com práticas internacionais, onde muitos países já avançaram para modelos de descriminalização ou regulação.
Uma das questões centrais é definir a quantidade que qualificaria a posse como uso pessoal versus tráfico. Mendes sugeriu uma linha de corte em 60 gramas ou seis plantas fêmeas, enquanto Fachin propôs 25 gramas. A ausência de consenso sobre essa quantidade representa um obstáculo significativo, e a definição precisa será crucial para a aplicação prática da lei.
O julgamento também gerou tensão no Congresso Nacional, onde uma emenda constitucional está em discussão para criminalizar a posse de drogas independentemente da quantidade. Essa proposta já foi aprovada pelo Senado e está sendo analisada por uma comissão específica na Câmara dos Deputados. Se aprovada, a emenda poderá dificultar a aplicação de qualquer decisão do STF favorável à descriminalização, gerando um impasse jurídico.
Os defensores da descriminalização no Congresso argumentam que a emenda é um retrocesso e contrária às tendências globais que caminham para políticas mais brandas em relação ao uso pessoal de drogas. No entanto, os opositores afirmam que a criminalização é essencial para manter a ordem pública e combater o tráfico de drogas de maneira eficaz.
A continuação do julgamento pelo STF é aguardada com grande expectativa, visto que os votos dos ministros restantes — Dias Toffoli, Luiz Fux e Cármen Lúcia — serão decisivos para o desfecho. A decisão não apenas marcará um momento histórico na jurisprudência brasileira, mas também poderá influenciar futuras políticas de drogas no país.
Independentemente do resultado, a discussão em torno da descriminalização da posse de maconha no Brasil reflete uma mudança significativa na abordagem do país em relação às drogas. Com uma maior compreensão dos efeitos sociais e econômicos das políticas antidrogas, o Brasil se encontra em um momento crucial de redefinição de suas estratégias nessa área.